EDITORIAL
Marcado por um passado e um presente de exploração, subjugação e inferiorização do outro, o Brasil ainda não sabe o que é viver numa sociedade em pé de igualdade entre humanos, natureza e outros seres vivos. Essa relação social estabelecida por uma elite, que marginaliza culturas, modos de vida, diferentes corpos, é o pano de fundo para que lutas sociais, como a do Movimento Negro, emerjam em busca da ocupação dos espaços de poder e da subversão do modo de fazermos arte, política, educação, relações públicas, economia…
É a partir da demanda de democratização dos espaços, da luta pelos direitos, da inclusão social e racial, que nasceu há 10 anos, no Brasil, a Lei nº 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas, uma ferramenta de tentativa de reparação histórica, que destina 50% das vagas das instituições federais de ensino para estudantes de escolas públicas, de baixa renda e autodeclarados pretos, pardos, indígenas e PcDs. Esta política de ação afirmativa permitiu, ao longo desse período, a inclusão educacional de grupos que, historicamente, foram sub-representados e explorados; e permitiu uma amplitude maior sobre o debate da descentralização do poder e da educação, bem como sobre o papel da mídia na abordagem dessa temática.
Qual a necessidade de implementar uma política de cotas raciais e sociais no Brasil? Como a mídia influencia na construção da opinião pública em relação à essa política? Nesta edição 32, a CURINGA investigou tais questões, trazendo-as para o debate e movimentando o papel jornalístico na criação de pontes e conexões entre pessoas e informações. Será que a Lei de Cotas é suficiente para democratização dos espaços? Garante a permanência dos estudantes nas instituições de educação? É uma chave de transformação social?
Com a revisão da Lei de Cotas prevista para 2022, em meio à campanha eleitoral, o futuro da educação e do país podem parecer incertos. Ainda assim, a CURINGA reafirma o seu compromisso em abrir o diálogo para essas pautas, para que todas as diversidades tenham a possibilidade de existir e de serem representadas, incorporando princípios para que possamos crescer com as diferenças.