EDITORIAL
No ano de 2022, completa-se um ciclo de 200 anos da "Independência do Brasil". Nas escolas, a história lecionada desde o Ensino Fundamental narra o episódio da "liberdade" do país sob o domínio de Portugal. O acontecimento é simbolizado pela figura heróica de Dom Pedro I, gritando "independência ou morte" às margens do Rio Ipiranga. Entretanto, esse heroísmo, tão comemorado no dia 7 de setembro, esconde, embaixo de quadros, museus e livros, a real pluralidade brasileira.
A Independência é comemorada por quem e pra quem? E quanto aos povos que já habitavam essas terras, a independência foi pra eles? E aqueles que de forma cruel foram trazidos em navios negreiros, abraçaram a liberdade? Onde estão os gritos desses povos no hino nacional? Nossas terras são livres? Afinal, somos mesmo independentes? É interessante observar que a palavra independência pode ser destrinchada, começando pelo aditivo do "s". Nesse jogo de sentidos, encontramos dependências e pendências, sobre as quais a 33ª edição da Curinga busca se dedicar.
Para o Dossiê (In)dependências, foram produzidas cinco reportagens que se debruçam sobre temas socioeconômicos, culturais e históricos. Começando pelo que entendemos sobre Brasil, noções de pátria e brasilidades são abordadas a partir de uma reflexão acerca dos símbolos nacionais oficiais. Nesse viés, é importante frisar que existem diversos brasis em um só, com diversidade. Por isso, outras duas reportagens trazem, respectivamente, a perspectiva da Independência sob a visão do movimento negro e dos povos originários. Além disso, considerando nossas questões estruturais como país, outra reportagem traça a geografia da desigualdade social, questionando-se a pobreza que nos constitui há séculos. Por fim, olhando-se para nossa terra, que tanto produz e segue sendo devastada, uma última reportagem questiona a tradição extrativista brasileira.
À cargo da equipe de editores, três especiais complementam a edição. Na entrevista principal, Ailton Krenak, ambientalista, líder indígena, escritor e filósofo é convidado para comentar o “Bicentenário nacional”. Somam-se a essa conversa um podcast e um documentário, tratando de outras questões. O documentário aborda a Inconfidência Mineira, dialogando com o fato da Curinga ter como sede um dos maiores polos coloniais do país, historicamente ligado a um movimento de emancipação política. O podcast, por sua vez, desenvolve a polaridade do colonial e decolonial na atualidade, trazendo arte e cultura como foco.
A Curinga segue em sua versão digital, explorando diferentes recursos multimídia. A revista de grandes reportagens, está presente também em diversas redes sociais, levando pautas de profundidade e relevância para os demais espaços do online. Com narrativa política, abordagem documental e jornalística, reafirmamos nosso compromisso com a verdade dos fatos, abertos ao mundo e contrários a qualquer preconceito imposto pelo colonialismo, sobretudo nesta edição.
Por Bruna Amorim