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Mineração, Economia e Política

A cidade de Mariana é marcada pela influência e participação histórica da mineração na economia. Fundado em 1696, o município se desenvolveu durante o ciclo do ouro e, até os dias atuais, é uma das vinte principais cidades mineradoras.  Atualmente, é produtora de minério de ferro. 


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou em 2015 que 59% do Produto Interno Bruto (PIB) de Mariana, no mesmo ano do rompimento da Barragem de Fundão, estava concentrado no setor de indústria.


Nos anos anteriores, o minério de ferro estava em alta no mercado, como explica a professora do Departamento de Serviço Social da Ufop, Kathiuça Bertollo: “Foi o momento do boom das commodities. O preço do minério estava muito alto. Então, as mineradoras foram produzindo, produzindo, produzindo. É muito mais alto o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] onde tem a mineração, em função dessa arrecadação”.


Durante esse período de superprodução, as minas de Timbopeba, em Ouro Preto, de Alegria, Fazendão e Fábrica Nova, em Mariana, assim como algumas barragens foram criadas, expandidas e utilizadas. Isso gerou o acúmulo de rejeitos, como no caso da Barragem de Fundão. 


As barragens de Xingu e Doutor, que operam em função dessas minas, aguardam a conclusão das obras de descaracterização, previstas para 2029. Localizadas na fronteira entre Mariana e Ouro Preto, todas essas minas e barragens fazem parte do Complexo Mariana da Vale e são importantes para a economia local.

Após o rompimento, a economia de Mariana foi afetada por diversas crises, influenciadas pelo próprio desastre-crime, pela oscilação do preço do minério de ferro no mercado, além de problemas econômicos que o país enfrentava na época. 

Apesar dessas adversidades, a mineração seguiu dominante na economia municipal, e ao mesmo tempo, representando uma parcela menor da ocupação no mercado de trabalho.

O gráfico abaixo detalha o PIB total do município, de 2010 a 2021, e a participação de cada setor, medida através do Valor Agregado Bruto (VAB), que representa os índices de geração de riqueza.

É possível observar que o setor de Indústria, que inclui a mineração e construção civil, foi responsável pela maior parcela do PIB de Mariana em todos os anos. Apesar da queda significativa em 2015, ele retomou o seu crescimento, seis anos depois, em 2021. 

A economista Karolina Vasconcelos, mestre em Economia pela Ufop, destaca em sua dissertação de 2024 que as atividades econômicas da cidade têm relações de complementaridade e interdependência entre si, o que faz com que uma oscilação em uma, afete todas as demais. “Tem uma expansão da construção civil, do setor de serviços. E tem uma redução na contratação no comércio. Olha que interessante a gente observar, um setor de trabalho expandindo, mas o comércio diminuindo, sendo que a população está aumentando”, explica Karolina.

Assim, uma mudança brusca na mineração gera impactos em toda a economia local, do setor de serviços à administração pública.

A intensa retomada econômica a partir de 2020, e principalmente em 2021, fez o setor industrial (onde está inclusa a mineração) alcançar a marca inédita dos R$ 5 bilhões. Além disso, houve também a arrecadação recorde da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), um tributo importante para a economia e a política local. A CFEM é devida aos estados, ao Distrito Federal, aos municípios, e aos órgãos da administração da União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais.

Esses dados indicam um cenário em que o poder econômico da mineração também influencia a política marianense, como explica a professora Kathiuça Bertollo: “Uma consequência social, econômica que a minério-dependência desencadeia, além dessas questões diretamente vinculadas ao trabalho, são essas relações de poder muito contraditórias. O poder público, na especificidade do executivo e do legislativo, são muito atravessados pelos interesses das mineradoras”.

A análise de Kathiuça ilustra um poder público muitas vezes inerte e até mesmo favorável às ações das mineradoras, em função do poder econômico que elas exercem na cidade, tal como dos interesses de políticos. A professora explica ainda que essa relação se materializa em limitações na elaboração de leis ambientais, regulações e na oferta de serviços públicos. 

De acordo com ela, isso acontece na ausência de uma oposição institucional ao poder das mineradoras. “Não temos na região nenhum parlamentar, nenhum prefeito que faz uma posição ou uma oposição mais firme às mineradoras. Então, eu acho que isso é uma consequência muito violenta, dolorosa da minério-dependência também”, critica Kathiuça.

Anahí Santos, Júlia Martins, Maria Eduarda Marques e Maria Teresa Carvalho

Agosto de 2025

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Produto editorial da disciplina
Laboratório Integrado II: Grande Reportagem Multiplataforma, elaborado por estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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