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EDITORIAL
Miller Corrêa de Brito
<editor chefe>
[Outubro, 2024]
As redes sociais, que conectam nossas vidas, não começaram no ambiente on-line; elas estão nos espaços físicos e nas relações cotidianas. O digital é apenas uma expansão do “mundo real”. Essa é a premissa da 37ª edição da Revista Curinga, Vidas em Rede. O seu objetivo é explorar como os laços e conexões humanas, que sempre fizeram parte do convívio social, são potencializados pelas tecnologias digitais e, ao mesmo tempo, continuam a existir de maneira forte e vital fora do ambiente virtual.
A produção desta edição começou em meio a um contexto desafiador. A greve dos docentes das universidades e institutos federais, que teve início em abril de 2024 e durou mais de 60 dias, coincidiu com o período em que a equipe da Curinga começava a desenvolver esta edição. Apesar das dificuldades, e contando com a menor equipe da história da revista - 8 editores e 11 repórteres -, a edição 37 busca criar uma visão ampla e multi-temática das vivências e conexões neste mundo virtual.
A edição abre e fecha com entrevistas, que ampliam o debate sobre o digital e suas implicações. Pela primeira vez, a Curinga apresenta uma entrevista completa em vídeo. A escolhida é Maíra Bittencourt, diretora-chefe da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e professora e pesquisadora da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ela discute temas importantes como o combate às fake news, o papel da comunicação pública e as novas lógicas de poder no mundo digital.
Já o fechamento da edição é com Maurício Ricardo, jornalista e chargista, que reflete sobre sua trajetória de mais de duas décadas na internet. Pioneiro ao migrar suas charges para o on-line no começo dos anos 2000, seu site charges.com.br o levou à televisão, principal vitrine para um artista à época, o que o fez ser conhecido nacionalmente sem sair de Uberlândia, no interior de Minas Gerais. Ao longo da vida, ele foi se adaptando às mudanças tecnológicas e suas experiências exemplificam como as redes digitais ampliaram conexões locais para uma escala nacional.
Seguindo com os conteúdos da edição, o podcast “Fauna de Azar” vem para abordar um problema atual que tem ganhado destaque no Brasil: os jogos de azar on-line, como o “Jogo do Tigrinho” e suas variações. Com a popularidade crescente dessas apostas, vemos um fenômeno em que influenciadores prometem faturamento de grandes fortunas com apenas alguns centavos e cliques, enquanto milhares de pessoas perdem dinheiro ao cair nessas armadilhas. A matéria evidencia os perigos dessas redes e como elas afetam financeiramente e emocionalmente os jogadores.
As redes sociais também desempenham um papel central na saúde, tema explorado na matéria "Conectar o Cuidado". Além das praticidades que o mundo on-line permitiu para as práticas de saúde, por meio de teleconsultas e pela presença de grupos de apoio, as redes sociais são vistas como um problema, envolvendo questões relativas à saúde mental. Esta dualidade também é explorada em “Dados Hipervisíveis”, que aborda a temática da exposição na internet, perfilando usuários de hábitos virtuais diversos e seus contextos de uso. A reportagem acompanha os personagens no dia a dia e mostra as presenças e ausências das tecnologias digitais em suas vidas.
Outra rede abordada é a de conexões físicas e pessoais no comércio local, tema central da matéria "Entre o Local e o Digital”. A tecnologia transformou a forma como produtos e serviços são oferecidos, e essa mudança é sentida de maneira intensa em pequenos negócios que adaptaram suas estratégias para sobreviver e prosperar na era digital. Paralelamente, a música, como expressão cultural e econômica, também foi impactada pela digitalização. O documentário “Beats e Bytes” explora a cena musical de Ouro Preto e Mariana, destacando como as plataformas digitais permitiram uma maior distribuição das produções musicais locais, ao mesmo tempo que levantam a questão: o que os artistas ganham de fato nessa realidade?
Vidas em Rede busca ir além da superfície dos efeitos digitais em nossa sociedade. A edição propõe uma reflexão sobre como as redes, tanto quando estamos on-line quanto fora delas, estruturam a vida das pessoas, moldando desde comportamentos cotidianos até questões sociais amplas. O maior desafio da edição é mapear e ligar esses múltiplos aspectos e, assim, entender melhor o mundo hiperconectado. O resultado você vê por aqui!

<foto> Gustavo dos Santos
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